Entre as consequências das conquistas tecnológicas ocorridas na 2ª metade do século 20 está o aumento da expectativa de vida da população feminina, cuja preocupação não é só viver mais, mas também melhor (o tão almejado envelhecimento saudável).
É sabido que, com a longevidade, a mulher que atinge 50 anos pode esperar viver 30 anos ou mais.
A menopausa, ou seja, a data da última menstruação, constitui apenas um marco dentro do climatério. Incide, em geral, aos 50 anos de idade, sendo precoce quando ocorre antes dos 40 anos e tardia após 55, 60 anos. Nesse período a mulher apresenta, via de regra, a diminuição do estrogênio (hormônio feminino).
Dentre as manifestações clínicas dessa fase destacam-se os sintomas vasomotores, caracterizados por ondas súbitas e transitórias de calor, que acometem principalmente o tórax, o pescoço e a face, podendo durar desde alguns segundos até uma hora.
Também podem surgir outros sintomas, como depressão, irritabilidade, insônia, ansiedade, ressecamento e perda da elasticidade vaginal, infecções urinárias de repetição, urgência e perda urinária aos esforços, alterações da pele (atrofia, ressecamento, perda do colágeno local), bem como o risco de doenças crônico- degenerativas, como a aterosclerose, doenças cardiovasculares, Alzheimer e risco aumentado de fraturas osteoporóticas.
A terapêutica do climatério sintomático consiste na hormonioterapia, devendo ser individualizada às necessidades de cada paciente. Na transição menopausal as principais indicações são os fogachos (ondas de calor) e a irregularidade menstrual. Na pós-menopausa precoce as principais indicações além dos fogachos são os sintomas urogenitais e a prevenção da fratura osteoporótica.
Atualmente, há o conceito de “janela de oportunidade”, em que quanto mais próximo ao início da menopausa a terapia hormonal (TH) é prescrita, melhores são os resultados – tais como benefícios cardiovasculares e cognitivos, e menores são os riscos. É fundamental a introdução da terapia hormonal no momento certo!
Mulheres com mais de 60 anos, com menopausa natural e sem o uso prévio de TH, a princípio, não são candidatas ao início da hormonioterapia (ensaios clínicos indicam um aumento do risco de doenças cardiovasculares, como coronariopatias, Acidentes Vasculares Cerebrais e tromboembolismo venoso).
O tempo de administração da TH é controverso; não existe consenso sobre quando e como realizar a suspensão do tratamento, pois esta depende de vários fatores associados e/ou individualizados, tais como a manutenção dos benefícios aos quais foi instituída, a melhora da qualidade de vida, o perfil de risco das usuárias, efeitos adversos e a experiência profissional do médico que a prescreve.
Apesar de o câncer de mama ser a principal preocupação da mulher, a maior incidência de morte se refere às doenças cardiovasculares: um índice de 53%, comparado aos 4% do câncer de mama.
No ensaio clínico WHI, o risco de câncer de mama, em termos absolutos, foi de oito casos a cada 10.000 mulheres que utilizaram terapia com estrogênio e progesterona por cinco anos ou mais. Nesse mesmo trabalho científico, mulheres que só fizeram o uso de estrogênio, durante sete anos, não apresentaram aumento do risco de câncer de mama.
A terapia hormonal, em geral, pode ser feita com estrogênio, progestagênio e tibolona (e, em casos selecionados, também com androgênio). As vias de administração são: oral, vaginal, transdérmica, percutânea e subcutânea. A dose deve ser a menor, e pelo menor tempo necessário, para que se possa alcançar os efeitos benéficos, minorando os possíveis riscos.
São algumas contraindicações à TH:
História atual, passada ou suspeita de câncer de mama.Tumor maligno estrógeno dependente.Sangramento genital sem diagnóstico.Tromboembolismo venoso e arterial.Hipertensão arterial não tratada.Doença hepática ativa.Porfíria cutânea tardia.Para o acompanhamento da paciente climatérica que faz TH são importantes alguns exames periódicos, como os de glicemia, colesterol, triglicérides, tireoide, função hepática e renal, colpocitologia, mamografia bilateral, ultrassonografia endovaginal (e, em casos selecionados, também a vídeo-histeroscopia), pesquisa de sangue oculto nas fezes e densitometria óssea a critério clínico.
Independente do uso ou não da terapia hormonal, é imprescindível que a mulher adote hábitos saudáveis: evitar o tabagismo, consumir bebidas alcoólicas com moderação, praticar esportes e manter uma dieta equilibrada são medidas fundamentais. Por Dr. Orlando Monteiro Jr.
(CRM/SP 73.806 – CRM/MS 3.256 – TEGO 568/95)