A síndrome dos ovários policísticos é um transtorno frequente e complexo da função endócrina, com prevalência de 14 a 30% nas mulheres em idade reprodutiva. A expressão clínica da síndrome comumente inclui: irregularidade menstrual, hiperandrogenismo (excesso de hormônios masculinos), infertilidade (pela anovulação crônica) e obesidade.
Quanto à infertilidade, afastados outros fatores, a primeira conduta é a perda de peso – quando em pacientes obesas (a perda de 5% do peso corporal já pode normalizar a função ovariana, tornando o ciclo menstrual ovulatório).
No arsenal medicamentoso, como primeira opção para a indução da ovulação na síndrome dos ovários policísticos tem-se o citrato de clomifeno, que, por ciclo, as taxas obtidas de ovulação oscilam entre 70 e 85%; de gravidez, entre 30 e 35%. Existem pacientes que são resistentes ao citrato de clomifeno (cerca de 15%). Atualmente, as gonadotrofinas são as drogas de segunda linha – nesses casos, as taxas de gravidez estão entre 30 e 40%. As gonadotrofinas apresentam alguns inconvenientes, como o difícil manejo, alto custo, difícil armazenamento, risco de gravidez múltipla, síndrome de hiperestímulo ovariano, bem como o alto índice de cancelamento de ciclos induzidos.
Como alternativa ao uso de gonadotrofinas em pacientes resistentes ao citrato de clomifeno, contamos com o driiling ovariano (laparoscopic ovarian drilling), técnica descrita em 1984 por Gjöannaess: através da vídeo-laparoscopia são realizadas de 4 a 10 microcauterizações na superfície dos ovários , que levam à melhora do equilíbrio hormonal. O resultado é a maturação dos folículos e, consequentemente, a ovulação. Em poucos dias, após a indução laparoscópica, há uma normalização da função ovariana e melhora dos níveis de diversos hormônios.
O autor, com uso da técnica de indução de ovulação através da vídeo-laparoscopia, obteve como sucesso 65% de gravidez em pacientes inférteis, exclusivamente por fator ovulatório, e sem outra medida adicional (75% das gravidezes ocorreram nos 12 primeiros meses que se seguiram ao drilling ovariano).
As vantagens da indução laparoscópica da ovulação na síndrome dos ovários policísticos em pacientes resistentes ao citrato de clomifeno, se comparado ao uso de gonadotrofinas, inclui repetidos ciclos mono-ovulatórios, gestações únicas, pouca formação de aderências, diminuição na taxa de abortamento, ausência de risco de hiperestímulo ovariano e taxas de sucesso semelhantes a das gonadotrofinas.
Considerando as condições em nosso país, onde não é grande o número de casais que dispõem de condições financeiras para arcar com ciclos de estímulos ovarianos usando gonadotrofinas, a indicação laparoscópica deve ser lembrada.
Por ser o drilling ovariano uma técnica minimamente invasiva de indução de ovulação, havendo indicação pelo seu médico, a paciente poderá usar mais esta alternativa com o objetivo final de realizar o seu sonho de engravidar. Por Dr. Orlando Monteiro Jr.
(CRM/SP 73.806 – CRM/MS 3.256 – TEGO 568/95)